Tecnologia
Nos últimos anos, a inteligência artificial ganhou espaço no setor hoteleiro, e a gestão de receitas não foi exceção.
03-03-2025 . Por TecnoHotelPortugal
Esta tecnologia, que começou por ser uma ferramenta para análise de dados e previsão de tendências, evoluiu para automatizar decisões e até mesmo contextualizá-las. Perante estes avanços, a questão-chave que se coloca é: estaremos a assistir à evolução do tradicional revenue manager ou estamos a caminhar para o seu desaparecimento?
A ascensão da IA como copiloto: colaboradora ou concorrente?
A IA não se limita apenas ao tratamento de dados; começou também a tomar decisões que antes eram do domínio exclusivo dos gestores de receitas. Isso levantou preocupações no setor. Alguns profissionais sugerem que os hotéis mais pequenos e menos complexos serão os primeiros a adotar a automatização total, dispensando gestores de receitas humanos. Na sua opinião, a tecnologia já consegue gerir os preços e os stocks com eficiência nesses casos.
No entanto, em hotéis de média e grande dimensão, onde a complexidade é maior, os revenue managers continuarão a desempenhar um papel essencial. Aqui, a IA atua como um “copiloto”, lidando com tarefas de rotina e libertando os humanos para se concentrarem na estratégia global. Especificamente, a IA permitirá que os gestores de receitas se concentrem em tarefas mais humanas, como a extrapolação, a hipótese e a empatia. Em vez de os substituir, a IA irá redefinir os seus papéis, fazendo com que o perfil dos gestores se incline mais para uma abordagem técnica e estratégica.
Uma evolução necessária ou o fim de uma era?
Muitos especialistas concordam também que a automatização orientada pela IA marcará uma mudança profunda na natureza da gestão de receitas. Thibault Catala, fundador da Catala Consulting, alerta na Hospitality Net que o cargo tradicional de gestor de receitas pode desaparecer em cinco anos, substituído por ferramentas de IA ou integrado noutros departamentos, como as vendas. No entanto, Catala sublinha também que uma abordagem humana ainda é necessária em certas áreas que a IA não consegue replicar, como a experimentação ou a influência comunicativa.
Neste sentido, Pablo Torres, diretor da Teduka, propõe uma visão mais crítica: com a automação total, o revenue manager, tal como o conhecemos, deixará de existir. Torres acredita que as máquinas estão a substituir o trabalho mental, e não apenas o trabalho manual, e que, eventualmente, a IA tomará decisões mais rápidas e precisas do que os humanos. Aqueles que compreenderem como aproveitar a IA a seu favor serão os verdadeiros vencedores nesta nova era.
A necessidade de adaptação estratégica
Apesar dos avanços na IA, outros especialistas concordam que os gestores de receitas não desaparecerão completamente, mas terão de se adaptar. Na sua opinião, a IA não visa eliminar postos de trabalho, mas sim otimizar as operações e entregar melhores resultados. A chave, dizem, é integrar a tecnologia com a interação humana, garantindo que os gestores de receitas aproveitam o poder da IA para tomar decisões mais informadas e ágeis.
Esta perspectiva é partilhada, por exemplo, por Max Starkov, consultor de tecnologia hoteleira. Para Starkov, um sistema de gestão de receitas baseado em IA pode tomar milhões de decisões de preços em tempo real, algo que seria impossível para um gestor de receitas sem o apoio da automatização. No entanto, defende que os hotéis de gama alta ainda precisarão de supervisão humana, uma vez que a IA ainda não consegue replicar totalmente a intuição e a perceção estratégica humana.
Desafios da IA: a importância do toque humano
Simone Puorto, futurista e CEO, propõe uma reviravolta interessante: em vez de perguntar se a IA irá substituir os gestores de receitas, deveríamos pensar como será o futuro dos gestores de receitas humanos na era dos “copilotos” da IA. À medida que a tecnologia avança, os humanos continuarão a proporcionar aquele “toque mágico”, a intuição e a empatia que as máquinas ainda não conseguem replicar. E até o carro mais rápido precisa de um condutor. Ou seja, embora a IA possa lidar com os aspetos técnicos da gestão de receitas, os humanos serão ainda essenciais para configurar estes sistemas e traduzir as decisões em estratégias que sejam compreensíveis para o resto da organização.
A IA como aliada na nova era das receitas
Em última análise, longe de ser uma ameaça, a IA pode tornar-se a melhor aliada dos gestores de receitas, tal como já foi com as soluções de Business Intelligence. Há pouco tempo, alguns profissionais temiam que as ferramentas de BI tornassem os gestores de receitas redundantes. No entanto, estas soluções acabaram por melhorar o seu trabalho, automatizando tarefas repetitivas e libertando-os para se focarem no que é estratégico. Assim, é provável que um impacto semelhante ocorra com a IA, o que permitirá aos gestores de receitas otimizar o seu tempo e tomar decisões mais eficazes.
David Val Palao— Diretor do TecnoHotel. Licenciado em Jornalismo pela Universidade Complutense, trabalha há mais de 10 anos no setor educativo e cultural. Desde 2017 que escreve e coordena o TecnoHotel. Ocupou os cargos de editor e editor-chefe até ser nomeado diretor em setembro de 2023.
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