Tecnologia
A Carnival Cruise Line opera mais de cem paquetes que viajam entre 740 destinos nos Estados Unidos, Canadá, Mexico, Europa, Ásia e Austrália, e agora procura usar IoT e inteligência artificial para transformar estas “cidades flutuantes” em smart cities
01-08-2019
Em 2017, John Padgett, Chief Experience and Innovation Officer da Carnival Cruise Line, apresentou no CES o Ocean Medallion: um wearable do tamanho de uma moeda de 50 cêntimos usado para representar digitalmente os passageiros a bordo de um navio de cruseiro, pondo à sua disposição uma infinidade de serviços personalizados.
O medalhão não é visivelmente tecnológico: aparenta ser uma simples ficha de alumínio, sem luzes, entradas, ou botões. Não precisa de ser carregado na duração da estadia e pode ser usado como pendente num colar ou pulseira, preso ao cinto ou simplesmente transportado no bolso. A interface usada pelo passageiro é uma simples app móvel, Ocean Compass.
O medalhão só serve para o representar no sistema – via NFC e bluetooth – sem a condicionante da heterogeneidade de tecnologias, protocolos e capacidades de comunicação wireless dos smartphones.
A primeira implementação foi no Regal Princess, um gigante com 300 metros de comprimento, 19 andares, capacidade para 3.500 passageiros e uma tripulação de 1.300. É um exemplo perfeito do conceito de “cidade flutuante” dos paquetes modernos, incluindo restaurantes, lojas, galerias de arte, teatro, cinema, atividades organizadas, spa, piscina, fitness center, desporto, piscinas, vários casinos e um campo de golf. O Vista, o maior da frota Carnival, tem também um parque aquático. Com tantas opções e tempo presumivelmente limitado, a capacidade de ajudar os passageiros a explorar e programar as suas atividades trás sem dúvida valor acrescido, e esta foi a força-motriz por detrás do projeto Medallion.
“Durante anos, a tendência tem sido cada vez mais navios, cada vez maiores”, refere Padgett. “Quando temos mais e mais pessoas, vamos igualmente ter mais complexidade. Os passageiros estão sujeitos ao paradoxo da escolha: têm mais opções do que alguma vez poderiam sonhar fazer. Assim, a questão não é cada pessoa ter mais coisas para fazer, mas sim poder fazer as coisas certas para si – e, mais importante ainda, saber quais são de facto certas”.
O sistema usa, para além dos medalhões a bordo, milhares sensores em todo o navios, centenas de quilómetros de cabos e dois data centers. Os medalhões comunicam com este sistema, que, no todo, vão formar um “genoma” digital associado àquela pessoa especifica que conhece as suas preferências e interesses, permitindo, nas palavras de Padgett, “uma experiência de estadia end-to-end oferecida de forma holística, personalizada e simplificada.
Mesmo antes de sair de casa, a aplicação permite ao passageiro programar o seu itinerário e configurar preferências, alergias, limitações físicas, etc, que serão fatorizadas na personalização da sua experiência. O passageiro poderá também fazer check-in remotamente através da plataforma Ocean Ready.
Uma vez a bordo, o medalhão ir-lhe-á permitir aceder à cabine sem chave através de um sensor de proximidade: a porta destranca-se automaticamente, as luzes são ligadas e o sistema de climatização é ajustado às suas preferências. Isto não só é conveniente para o passageiro como permite ao navio poupar energia ao otimizar o uso destes sistemas.
No decorrer do cruzeiro, tudo o que o passageiro fizer pode ser coordenado através da plataforma, desde navegar os 19 andares do navio a fazer marcações para serviços e atividades. Ao reservar uma mesa, por exemplo, as preferências culinárias e alergias do passageiro são automaticamente fatorizadas, informando-o dos items mais apropriados no menu, assinalando a presença de alergénios e filtrando as sugestões de restaurante.
Ao longo da estadia, o passageiro vai receber sugestões personalizadas e convites para eventos especiais com base nos seus gostos e interesses, e será notificado de tudo o que estiver a decorrer de relevante dentro de um determinado raio.
Adicionalmente, membros de famílias e grupos têm a possibilidade de se localizar uns aos outros. Por razões óbvias, esta é uma opção facultativa, mas torna-se extremamente útil para garantir a segurança de crianças e outros dependentes.
Adicionalmente, por questões de privacidade, permite aos passageiros desativar opções de localização e determinar o nível de personalização que pretendem usar – e, em último caso, o próprio uso do medalhão é facultativo.
Apesar da possibilidade de programar o itinerário, o propósito da plataforma é estar em sintonia com o que os passageiros querem, pelo que se não seguirem o programa o sistema adapta-se automaticamente, oferecendo suporte baseado no que estão a fazer nesse instante.
Segundo Padgett, o que diferencia verdadeiramente esta tecnologia é a capacidade que a inteligência artificial tem de diferenciar necessidades, preferências e desejos de cada passageiro no contexto dessa viagem específica e de se adaptar constantemente.
O “algoritmo de experiência” associado a cada pessoa evolui a um ritmo de três vezes por segundo, aprendendo constantemente com base na sua localização e ações. Começa com a informação fornecida previamente – propósito da viagem, tipo de atividades preferido, etc. Mas a partir do momento que o passageiro entra no navio, o algoritmo vai começar a evoluir. Assim, se o passageiro referir que prefere atividades tranquilas mas passar os primeiros dois dias a experimentar aulas de dança e fazer desporto, o seu “genoma” vai-se adequar em concordância com isso.
“A nossa estratégia é a tecnologia ser imperceptível”, conclui Padgett. “É guest-centric: simplesmente permite que o utilizador escolha o que quer fazer, nós apenas garantimos que tem sempre muito por onde escolher”.
Fonte: www.smartplanet.pt/