Sustentabilidade
Schneider Electric - Entrevista a Luis Sykes, Key Account Manager, Schneider Electric
21-12-2022 . Por TecnoHotel Portugal
1. A crise energética está a fazer-se sentir com particular força nos consumidores eletrointensivos. Como é que isto está a impactar os vossos clientes do setor hoteleiro?
Os principais elementos consumidores de energia elétrica e de gás na hotelaria estão claramente identificados: são os sistemas de climatização, de aquecimento de águas sanitárias e de água das piscinas, as cozinhas e as lavandarias. Estes consumidores fazem parte de processos produtivos (por exemplo, as cozinhas e as lavandarias) e de sistemas diretamente relacionados com o nível de oferta e de conforto que os hotéis se comprometem a oferecer aos seus clientes (como as piscinas aquecidas). Assim, a energia que absorvem faz parte de um conjunto de custos fixos que os hotéis suportam, não variando em função das taxas de ocupação dos quartos. O impacto do elevado aumento destes custos no balanço das empresas foi totalmente absorvido, sem que se pudessem aplicar grandes medidas de redução de consumo ou de renegociação de contratos de compra de energia; tudo aconteceu demasiado depressa, pelo que na maioria dos casos os budgets definidos para este ano foram amplamente ultrapassados. Consequentemente, e para além da necessidade de cortar nos custos enquanto se atende às crescentes expectativas dos hóspedes, torna-se evidente que é necessário dar a máxima atenção aos gastos com a energia. Neste momento há que saber, de forma capilar, onde e quando é que efetivamente se consome.
2. Como é que tecnologias de automação e gestão energética podem ajudar a enfrentar estes desafios?
— É do senso comum que o funcionamento dos sistemas que suportam os serviços e os níveis de conforto oferecidos pelas unidades hoteleiras deverá variar em função de grandezas dinâmicas, como por exemplo a ocupação dos espaços. A ausência de hóspedes nos quartos poderá determinar um ajuste automático no set-point de temperatura do espaço, tal como uma baixa taxa de ocupação do hotel poderá levar a que as infraestruturas de climatização ou de aquecimento de águas possam deixar de trabalhar em pleno, garantindo reduções significativas de consumo de energia ao mesmo tempo que se prolonga a sua longevidade. Assim, é fundamental implementar plataformas digitais de automação de processos e de monitorização de energia que possam auxiliar nesta gestão. Nos casos em que as unidades hoteleiras estão equipadas com produção local de energia elétrica, será fundamental que as plataformas digitais de gestão analisem em tempo real os custos de aquisição de energia e giram as cargas em função desta condição. O basculamento entre a rede e o sistema de produção própria e a gestão do diagrama de cargas ao longo do dia terão de ser feitos de forma dinâmica, para que se obtenham os melhores resultados de exploração
3. Para além da otimização do consumo energético, como é que estas soluções podem também ajudar as empresas do setor a ir mais além na satisfação do cliente?
A transformação digital em curso nas empresas do setor hoteleiro, mais do que apenas informatizar processos até agora manuais ou em papel, signifca poder antecipar o futuro no que toca à disponibilidade dos recursos que equipam as unidades hoteleiras e que servem a sua missão. A sensorização dos equipamentos e sistemas implementados e a sua constante análise permitem prevenir avarias e paragens não desejadas, aumentando a eficiência operacional e reduzindo as horas de manutenção. A análise em tempo real dos dados retirados do campo permite que se atue preventivamente e não corretivamente, representando continuidade de serviço e controlo de custos de manutenção, reduzindo as despesas não previstas e não consideradas no orçamento. A satisfação do cliente passa necessariamente pelo cumprimento das expectativas que o mesmo traz para a sua estadia; se estas forem excedidas, ele reconhecerá esse facto e considerará sem dúvida voltar. Por outro lado, se as falhas de equipamentos ou sistemas provocarem, direta ou indiretamente, desagrado na experiência do hóspede ao nível do serviço prestado ou do conforto sentido, não só a sua avaliação não será positiva e influenciará inúmeros outros potenciais clientes (refiro-me ao buzz gerado nas plataformas digitais), como ele próprio poderá colocar em causa o seu regresso.
4. Quais sentem que serão as principais tendências para o setor hoteleiro nos próximos anos? Como é que os clientes podem manter a competitividade?
Verifica-se atualmente uma intensificação na vontade de captar utilizadores dos espaços que não estejam necessariamente hospedados. Prova disso é a proliferação de rooftops totalmente recondicionados e limpos de quaisquer equipamentos técnicos, que se transformaram em locais de convívio exclusivos nos locais mais privilegiados dos centros urbanos. Tal como ginásios, cabeleireiros, SPAs e outras lojas e salas de conferências para encontros corporativos, são espaços nos hotéis agora abertos à comunidade transeunte. Estas iniciativas alimentam a divulgação e a atratividade dos locais e diversificam as fontes de receitas, amortecendo os resultados financeiros da unidade hoteleira (tradicionalmente dependentes da ocupação dos quartos). Por outro lado, verifica-se uma maior diversificação e foco nas ofertas de nicho. As cadeias têm ajustado os seus produtos, renovando a imagem e os serviços prestados tendo em conta o seu público-alvo. É uma realidade que não se verifica exclusivamente nos meios urbanos, mas também nos hotéis de praia e rurais – obrigando-nos, enquanto indústria, a desenvolver soluções tecnológicas que variam entre as mais simples, com funções just enough, às mais elaboradas e exclusivas, sempre associadas à marca e clientelas definidas. Por fim, verifica-se uma especial atenção às metas de sustentabilidade e às expectativas das partes interessadas, ao mesmo tempo que se cumprem os regulamentos e as necessidades de report.