Setor
06-12-2020
Este é um procedimento habitual para qualquer equipa de viticultura: diagnosticar o estado de saúde das videiras e proceder à sua reposição quando necessário, para garantir a continuidade da própria vinha. No entanto, em 2009, durante uma reunião das equipas de terreno da Quinta do Crasto, aquele que seria um trabalho simples, levantou uma questão complexa: como é que se poderia proceder à substituição de videiras em vinhas centenárias, como é o caso da emblemática vinha Maria Teresa, cujo perfil único se deve, precisamente, à multiplicidade de variedades que a constituem e que não deve ser alterado?
Estava dado o primeiro passo para a criação de um inédito e desafiante projeto de proteção e salvaguarda deste património genético raro. A idade avançada e o estado vulnerável desta vinha velha, que deve o seu nome à neta de Constantino de Almeida, fundador da Quinta do Crasto, serviram de mote para que se iniciasse o projeto PatGen Vineyards (Património Genético das Vinhas), como viria a chamar-se oficialmente.
Para Tiago Nogueira, responsável de viticultura da Quinta do Crasto, “o desafio foi realizar um rigoroso mapeamento genético de cada videira que está plantada na vinha Maria Teresa, ao longo dos seus 4,7ha, com o objetivo de proceder à reposição de videiras mortas por variedades geneticamente idênticas, perpetuando, desta forma, o ADN único deste terroir”.
Entre as fases mais determinantes do processo, destacam-se a georreferenciação das videiras, que consistiu no levantamento do impressionante número de 31.825 pontos/coordenadas, resultado do somatório do número de videiras, falhas e bacelos existentes; a identificação da variedade de cada videira e a manutenção do mapa genético, que possui como base um campo de multiplicação na Quinta do Crasto das 54 variedades identificadas, bem como voos efetuados por drone e imagens de satélite, que possibilitam imagens de alta resolução (NDVI e NDVR) que permitem, entre outros, antecipar a perda de material genético e a contagem de plantas em risco.
Para Manuel Lobo, enólogo da Quinta do Crasto, este projeto “terá um grande impacto na viticultura no Douro uma vez que permite, através da tecnologia que estamos a usar, a tomada de decisões mais fundamentadas em momentos-chave para a vinha, mas também antecipar necessárias intervenções humanas, sempre videira a videira, para garantir o nível de fertilidade da planta e evitar a sua falência. É um trabalho complexo, exaustivo e exigente, mas absolutamente indispensável para garantir a sustentabilidade e o futuro do património de vinhas velhas da região e dos grandes vinhos que produzem”.
Um desses exemplos é o Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2017, que acaba de ser apresentado ao mercado. Resultado de um ano desafiante para as equipas de viticultura e enologia, caracterizado pela baixa produção das videiras contrariada pela excelente qualidade e perfeito equilíbrio da uva, este vinho estagiou durante 20 meses em barricas de carvalho 100% novas, sendo 90% de carvalho francês e 10% de carvalho americano. O lote final foi criado a partir da seleção das melhores barricas.
Tudo isto se traduz num vinho de cor ruby carregado, que impressiona no nariz pela sua extraordinária complexidade e frescura aromática, destacando-se elegantes notas de esteva, frutos silvestres do Douro e especiaria. Na boca revela-se um vinho muito sedutor, com taninos de textura suave em perfeita harmonia com notas retro nasais que lembram frescos aromas de bosque. Termina de forma muito envolvente, em perfeito equilíbrio e com excelente persistência.
Um vinho singular que expressa toda a identidade da centenária vinha Maria Teresa e que já pode ser encontrado principais garrafeiras nacionais, com um PVP informativo de 200€. A distribuição em Portugal é exclusiva da Heritage Wines. Para saber mais sobre a Quinta do Crasto, consultar www.quintadocrasto.pt ou www.heritagewines.pt.