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Brexit condiciona turismo

20-03-2019

Brexit condiciona turismo

É o segundo maior mercado emissor para Portugal. E é certo que os britânicos não deixarão de fazer férias. Mas a indecisão sobre o futuro do Reino Unido está a condicionar as suas decisões sobre o destino de férias.

O que já está a ter reflexos nos resultados da hotelaria.

Num país tão dependente do turismo como Portugal, qualquer variação pode ter um impacto que vai para além do sector. Daí a preocupação com o Brexit. Os números oficiais do Instituto Nacional de Estatísticas indicam um abrandamento daquele que é o principal mercado de dormidas a nível nacional, mas também, e principalmente, o mais importante, como refere Cristina Siza Vieira, Presidente da Direção Executiva da AHP - Associação da Hotelaria de Portugal, no Algarve e na Madeira, destinos que mais se ressentiram com a quebra de turistas proveniente do Reino Unido.

Para se ter uma noção da importância da importância do mercado britânico convém saber que é o é o quarto maior mercado emissor de turistas a nível mundial, o segundo maior da Europa e o primeiro de Portugal. Segundo dados do Turismo de Portugal em 2017, o Reino Unido foi o principal mercado da procura externa para Portugal, aferido pelos principais indicadores turísticos, hóspedes (quota de 15,3%),dormidas (quota de 22,3%), e receitas turísticas (17,1%).

Dito de outra forma. O Reino Unido foi responsável, nesse ano, por 1,9 milhões de hóspedes, 9,3 milhões de dormidas e 2.591 milhões de euros de receitas turísticas, sendo que estes indicadores registaram respetivamente, crescimentos de 2,5%, 1,2% e 14,3%. Ao nível dos destinos portugueses a principal escolha dos turistas britânicos recai no Algarve (65%), seguido da Madeira (20,6%) e Lisboa (9,3%). Tendo em conta este cenário facilmente se percebe que as consequências de uma “simples” indecisão ou abrandamento dos números. Só para se ter uma ideia, e segundo os dados do INE, no passado o mercado inglês teve uma queda de 6% no número de hóspedes, o que representou uma diminuição de oito por cento nas dormidas. O que vai condicionar, automaticamente, a rentabilidade do sector, com especial ênfase na hotelaria. Isto porque os britânicos privilegiam a hotelaria como forma de alojamento, com especial enfase nas unidades de quatro e cinco estrelas (48,3% e 38,8%, segundo dados do INE, referentes a 2017 – os dados provisórios de 2018, referentes ao período entre janeiro e setembro indicam um aumento da procura para, respetivamente, 49.1% e 39%). E os grupos hoteleiros já começam a divulgar isso mesmo. Em Janeiro o o principal grupo hoteleiro português noticiou uma quebra de 7% nas receitas do mercado britânico em 2018. E, segundo o inquérito realizado pela AHP aos seus associados, no final de 2018, o Brexit foi apontado como segundo maior constrangimento pelos hoteleiros de quase todos os destinos nacionais para 2019. Mas, mais do que isso. O Brexit está a deitar por terra anos de investimento no mercado britânico. Fuga do sol do Algarve? O sol do sul do país era um dos principais atrativos para os britânicos.

Desde 2015 que a região registava mais de um milhão de hóspedes oriundas daquele país (em 2014 o valor ficou muito próximo dessa fasquia) e, desde essa data, os números não pararam de crescer. Pelo menos até ao ano passado, altura em que houve uma queda de 80.039 hóspedes. A descida das dormidas foi ainda maior – 541.342. Feitas as contas o Algarve, de janeiro a novembro de 2018, registou uma diminuição de 7,7% no número de hóspedes e de 9,4% nas dormidas face ao mesmo período de 2017. E os indicadores para este ano não são muito animadores. Não só porque a indecisão sobre o que vai acontecer com o Reino Unido permanece, mas também porque se verifica a reemergência de destinos concorrentes. Sobre isso a ATA refere que acredita “que a plenitude das consequências destes fenómenos se venha a concretizar em 2020, nomeadamente ao nível do acolhimento em zona de fronteira, pelo que 2019 será um ano para precaver e minimizar os impactos. Neste contexto, todo o setor do turismo do Algarve está mobilizado para um esforço de combate e adaptação que será necessário empreender face a esta nova realidade.” Em termos de rentabilidade, e apesar de os números se manterem positivos, com os proveitos totais de 2018 a totalizarem 1,081 mil milhões de euros (valor que representa um aumento de 4,7% face a 2017), este pode ser um cenário temporário. De acordo com um recente relatório da consultora Euler Hermes prevê-se que, com o ambiente de incerteza gerado em torno do Brexit, será expectável, num futuro próximo, uma quebra de 3% no setor do turismo e viagens do mercado britânico. Atenuar as consequências do Brexit Mais do que a indecisão sobre o futuro político do Reino Unido o que está a causar um adiamento das decisões de férias dos britânicos prende-se com a desvalorização da libra. Situação que, como lembra Cristina Siza Vieira, faz do destino Portugal, um destino mais caro para os turistas britânicos. A isto junta-se “a falência de companhias aéreas que operavam para estes destinos e o ressurgimento de destinos muito competitivos no preço e no produto Sol e Mar”. E convém não esquecer os constrangimentos gerados pela “saturação” dos aeroportos de Lisboa, Faro e Funchal.

Para atenuar esta questão (e tentar prever cenários futuros) a ATA está a trabalhar num “plano de produto e mercado especificamente criado para enfrentar o Brexit que contempla a implementação integrada de um conjunto de ações online direcionadas ao consumidor final que visam criar um impacto positivo nas vendas do Algarve, como destino de férias ainda durante este ano”. A prioridade? “

Incrementar a perceção de valor e a notoriedade do destino Algarve junto do consumidor final, influenciando a priori o percurso de decisão pelo destino das férias e melhorando a possibilidade destas se virem a concretizar na nossa região. Isto é particularmente importante nos turistas que: estão a planear viajar, mas ainda não sabem para onde; estão a considerar viajar para um destino concorrente ao Algarve, ou já visitaram o Algarve há alguns anos e ainda não voltaram. Segundo a ATA, o “objetivo é melhorar o mindshare junto do consumidor final com vista a um consequente aumento do market share, independentemente do comportamento global que o outbound do Reino Unido venha a registar”. Uma outra medida será a de apostar no reforço das rotas, frequências e serviços existentes no aeroporto de Faro. Para tal a ATA tenciona continuar a apostar em campanhas conjuntas com companhias aéreas e operadores turísticos. “Estas campanhas, estarão alinhadas com a aposta na criação de oportunidades de visita à região durante todo o ano, com base na diversificação de motivações e na promoção de produtos como o Turismo de Natureza, a Cultura, a Gastronomia, o Golfe, o Turismo Náutico ou o MI.” Algo extremamente importante, dado que, e segundo dados da Association of British Travel Agents (ABTA), cercade 41,6% dos turistas britânicos organizaram, em 2018, a totalidade ou parte da sua viagem para o exterior com recurso a operadores/agências de viagens, face aos 58,4% que reservam exclusivamente online. Rotas diretas

Os aeroportos são fundamentais para o crescimento do turismo. Cerca de 95% (se não mais, dependendo do destino) dos turistas chegam a Portugal por via aérea. E as rotas existências, assim como a facilidade de circulação nos aeroportos é muito importante. Nos últimos tempos Portugal tem sido algo penalizado nessa matéria. A prova está nas notícias de constrangimentos nos principais europeus, nomeadamente Lisboa, Faro e Funchal. A isto há que adicionar as falências de algumas companhias aéreas. Sendo que, nos últimos anos, ocorrem algumas que afetara, as ligações entre o Reino Unido e, sobretudo, Faro e Funchal. Para Cristina Siza Vieira é “urgente encontrar alternativas, até porque essa situação faz com que os preços aumentem e não se torne tão atrativo como era anteriormente vir a Portugal”. No caso específico do Algarve a região está ligada “ligado a 25 aeroportos do Reino Unido e conta, neste momento com cerca de 87 ligações diretas operadas por 10 companhias aéreas”. E, apesar de, segundo a ATA, já ter possível colmatar as ligações perdidas com a falência da

consiga o restabelecimento de alguma capacidade aérea, nomeadamente por via de parcerias firmadas com a British Airways e a Jet2, o que poderá vir a permitir uma recuperação do mercado britânico depois de um ciclo de contração da capacidade aérea. Quem é o turista britânico? Mas quem é o turista britânico? Segundo dados do Turismo de Portugal, são pessoas com idades compreendidas entre os 25-44 anos e os 45 e os 64 anos, que concentram 36,5% e 35,1%, respetivamente, do total da motivação (sol e praia) é normal que a estadia média seja de 8,5 dias. No entanto a motivação tem vindo a mudar. Nos últimos tempos verifica-se um interesse crescente associado a outras motivações, nomeadamente a visitas a cidades, prática de atividades ao ar livre, história e cultura, compras ou ainda gastronomia e vinhos. E, principalmente, é um turista que aprecia investir nas suas férias. Não é por acaso que as receitas geradas pelo turista britânico passaram de 1,748 milhões de euros em 2014 para 2,189 em 2018 (dados provisórios de janeiro a setembro).

Alexandra Costa
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