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As redes sociais tornaram-se propagadores de informação e desinformação em todo o mundo, que circulam a velocidades sem precedentes, alimentando pânico, racismo... e prejudicando seriamente o turismo.
18-02-2020
As redes sociais tornaram-se propagadores de informação e desinformação em todo o mundo, que circulam a velocidades sem precedentes, alimentando pânico, racismo ... e prejudicando seriamente o turismo.
— “Não há motivos para preocupação", disse Maria Luisa Carcedo, ministra da Saúde de Espanha. Recomendamos avançar com o Mobile World Congress em Barcelona.
Mas não, pela primeira vez que ignoramos o “Nosso Médico". O pânico gerado pela quantidade de desinformação que circulava pelas redes sociais sobre a evolução do Covid-19 levou ao cancelamento do Mobile World Congress, o evento que proporcionaria ao turismo MICE da cidade de Barcelona uma receita de cerca de 477 milhões de euros.
Nem o primeiro nem o último
Este não será o primeiro ou o último surto viral que enfrentaremos, além disso, no futuro também certamente teremos outros eventos, como ataques terroristas, infortúnios naturais e outros problemas de diversa natureza, que se transformarão numa crescente fonte de alimentação para o sensacionalismo e que fornecerão mais ckickbaits a alguns meios de comunicação, ou mesmo a estratégias políticas que se vão aproveitar dessas circunstâncias para benefício próprio. Algo que sempre existiu e infelizmente sempre existirá.
De fato, após o cancelamento do Mobile, mais de 100 grandes eventos futuros, mundiais, começaram a ficar parados. E não apenas eventos, a Suíça, por exemplo, acaba de paralisar a instalação de antenas 5G em parte devido à pressão da população.
Redes Sociais, a ignição da infodemia
O Facebook está a trabalhar nos últimos dias a contra relógio para tentar eliminar postagens de conselhos de saúde duvidosos. Tencent, o proprietário do WeChat, usou a sua plataforma de verificação para tentar impedir os rumores falsos sobre o coronavírus que circulam na sua plataforma, mas a grande avalanche de conteúdo e desinformação superou todos os esforços coordenados para eliminar todo esse “lixo”.
Memes racistas e difamações proliferaram no TikTok e no Facebook. Alguns adolescentes até simularam um diagnóstico do coronavírus para ganhar mais influência nas redes sociais.
Essa toxicidade on-line também foi extrapolada para as interações entre pessoas. Os asiáticos estão a enfrentar abertamente racismo e assédio, os bairros e restaurantes chineses viram os seus negócios serem seriamente prejudicados. Recentemente ouvi na rádio a história do porta-voz da comunidade de wuhanenses baseada em Manchester no Reino Unido, uma cidade gémea de Wuham, sobre um pequeno grupo de estudantes que interpelou a sua filha de 10 anos na rua com mensagens e recriminações ameaçadoras, para a obrigar a não saír de casa.
E agora o que fazer?
Esta situação deve ser um ponto de reflexão para repensar o futuro, e as estratégias em relação ao turismo. Vimos como as grandes plataformas sociais sucumbiram à desinformação e não foram capazes de conter uma histeria global baseada no medo emocional e irracional.
Vamos aprender com os erros e estar preparado para uma segunda, terceira e quarta onda. Devemos trabalhar num plano de ação para enfrentar uma crise de desinformação, que terá que ser baseada no conhecimento e nas informações corretas. No final, é uma questão de combater o medo do desconhecido e isso só pode ser alcançado com uma boa explicação.
E reflita sobre o que está a ser mais letal, o coronavírus ou o pânico global.
Autor: Rafael de Jorge - Marketing e Inovação em Turismo, Dirige, coordena e leciona diversos mestrados e pós-graduações universitárias. Palestrante.
Imagens: Unsplash