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A TecnoHotel entrevistou o presidente do Turismo do Centro de Portugal sobre a situação presente e o futuro da região.
20-10-2020
TecnoHotel Portugal — A pandemia do Coronavírus obrigou ao fecho de muitas fronteiras. Posto isto, quais são as nacionalidades que têm visitado mais a região? Pedro Machado — Os visitantes estrangeiros estão igualmente a regressar à região, embora de forma mais tímida que os nacionais. Ainda assim, podemos dizer que, entre janeiro e julho, e segundo o INE, as nacionalidades que mais visitaram a região Centro de Portugal foram Espanha (101 mil dormidas), Brasil (56,7 mil), França (32,1 mil), Alemanha (26,7 mil) e EUA (22 mil).
TecnoHotel Portugal — A quebra do turismo provocou um crescimento do desemprego. Já existe uma noção clara de números e do impacto sentido? Pedro Machado — Ainda é cedo para avaliarmos com exatidão esse impacto. Receamos, no entanto, que seja muito significativo ao nível das empresas de alojamento, de restauração e de atividades turísticas. A AHRESP, que representa as empresas de hotelaria e restauração, revelou os resultados alarmantes de um inquérito que realizou em setembro aos seus associados, segundo o qual 40% das empresas da restauração e bebidas e 25% do alojamento turístico já despediram trabalhadores desde o início da crise pandémica. É uma verdadeira catástrofe para o setor e para os milhares de famílias portuguesas que dependem do turismo para receberem os seus salários.
TecnoHotel Portugal — Quais foram as medidas de apoio a que tiveram direito? Pedro Machado — Houve várias medidas de apoio às empresas lançadas logo no início da crise e que ajudaram a atenuar um pouco o efeito do primeiro embate, nomeadamente o lay-off e moratórias de créditos. No entanto, com o prolongar da crise, os empresários têm vincado a necessidade de haver ajudas mais direcionadas para a tesouraria. Muitas empresas do setor do turismo estão numa situação de tesouraria calamitosa, sem receitas que lhes permitam fazer face aos encargos. São essenciais medidas de apoio à tesouraria a fundo perdido para as empresas, e não medidas de crédito, pois sem receitas não é possível pagar créditos, por mais favoráveis que estes sejam. Até agora, ainda não houve sinais de que medidas neste sentido venham a acontecer.
TecnoHotel Portugal — Que impacto terá esta nova realidade no setor do turismo, bem como na região? Pedro Machado — Esta nova realidade vai produzir alterações profundas na atividade turística. Que já são visíveis. É notória a tendência, por parte de quem viaja atualmente, de escolher destinos próximos do local de residência, com receio da pandemia. Quem viaja, procura destinos que lhe transmitam segurança e tranquilidade e evita locais de grande concentração de pessoas. Não surpreende, por isso, que muitas unidades de alojamento do Centro de Portugal tenham registado o melhor verão de sempre. São unidades maioritariamente situadas no interior do país, em aldeias ou vilas, onde se respira paz e onde a natureza é omnipresente. Acreditamos que o turismo de natureza e o turismo ativo, propício a caminhadas ou passeios de bicicleta, serão segmentos cada vez mais relevantes na região e que atrairão cada vez mais turistas – como já está a acontecer.
TecnoHotel Portugal — Quais as suas previsões para o futuro do setor? Pedro Machado — Nos últimos anos, até surgir esta crise, o turismo era um dos grandes motores da economia nacional e regional. Não há motivos para acreditar que não continuará a ser assim que a situação epidémica for ultrapassada. Com uma alteração de fundo: tenho a convicção de que, assim que puderem viajar sem restrições, os turistas vão continuar a olhar com mais atenção para destinos que considerem seguros, com menos massificação turística. E nesse caso, o Centro de Portugal vai continuar a ser uma escolha evidente a ter em conta. Se houve algo que a pandemia nos trouxe, a todos, foi a descoberta de que há muito mais para descobrir em Portugal do que os tradicionais destinos de sol e praia. Temos um país magnífico que ainda é em grande parte desconhecido dos portugueses.