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12-11-2020
Poderíamos esperar que o mercado interno tivesse ajudado a atenuar esta quebra. E de facto, ajudou, mas muito pouco, já que a quebra nas dormidas de portugueses também se situou nuns expressivos 66,6% (0,6 milhões em 2020, contra 1,8 milhões em 2019 – sempre no período de Abril a Agosto)!
Em termos de proveitos, o cenário é também equivalente. Os proveitos globais nestes estabelecimentos nos meses em referência, caíram 89,6%, de 669,7 milhões de € em 2019, para 69,7 milhões de € em 2020.
TecnoHotel Portugal — A pandemia do Coronavírus obrigou ao fecho de muitas fronteiras.Posto isto, quais são as nacionalidades que têm visitado mais a região?
Vitor Costa — Desde que a pandemia alastrou (de novo entre Abril e Agosto de 2020), o mercado interno foi responsável por 48% das dormidas na Região, mas, saliente-se de novo, com uma quebra de 66,6% face a 2019. Todos os mercados internacionais registaram quedas superiores a 80% no número de dormidas. Ainda assim, aqueles que conseguiram um registo superior a 100 mil dormidas foram os mercados espanhol - aquele onde a quebra foi a menos acentuada (-83%) e o francês (-86%). Os mercados mais afetados são naturalmente os de fora da Europa: EUA e Brasil tiveram quebras de 98% e 95%, respetivamente.TecnoHotel Portugal — A quebra do turismo provocou um crescimento do desemprego. Já existe uma noção clara de números e do impacto sentido? Vitor Costa — Não dispomos de números a este nível, mas quando estamos perante um procura que, de repente, passou a significar cerca de 20% do normal, os impactes têm necessariamente de ser fortíssimos. Com base em dados do Observatório podemos ainda referir que cerca de 25% dos hotéis em Lisboa ainda não tinham reaberto as portas em Setembro de 2020. A existência de medidas de lay-off pode estar a conter um alastramento ainda maior do desemprego, que ocorrerá certamente se as mesmas forem levantadas sem que se pense em mecanismos equivalentes.
Na restauração e na animação turística a situação não será certamente melhor.
TecnoHotel Portugal — Quais foram as medidas de apoio a que tiveram direito? Vitor Costa — Na primeira fase da pandemia o Governo lidou bem com a situação e foram criados mecanismos adequados para apoiar as empresas e o emprego. A partir de certa altura pensou-se que se iria entrar na fase da retoma e os mecanismos foram revistos, para pior. Posteriormente, houve novas medidas que, segundo as associações setoriais e a Confederação do Turismo, foram tardias e insuficientes, embora positivas. O futuro é bastante incerto a esse nível. Os mesmos responsáveis associativos queixam-se de que a proposta de Orçamento de Estado não responde totalmente à situação. Mas creio que há consciência de que é absolutamente necessário preservar a estrutura económica do Turismo, para que esta atividade possa, em prazo relativamente curto, liderar a retoma. É, aliás, a única atividade que pode desempenhar esse papel no curto prazo.TecnoHotel Portugal — Que impacto terá esta novo realidade no setor do turismo, bem como na região? Vitor Costa — O grande problema na gestão desta nova realidade é desconhecer a duração da mesma. Enquanto a situação de pandemia se mantiver não haverá retoma da atividade turística. Quanto maior for a sua duração, mais complicado fica para o setor resistir à ausência de receita que lhes permite sobreviver. Por exemplo, dependendo nós em mais de 90% do transporte aéreo, dada a localização geográfica, só poderemos ter retoma se estiverem garantidas as ligações aéreas para responder ao aumento de procura, que irá certamente ocorrer. Uma vez que o problema é global, as consequências para o transporte aéreo estão também a ser muito sérias. O mesmo se passa relativamente a todo o tecido económico do Turismo, sem o qual essa atividade não pode existir. Portanto, a grande questão que se coloca é saber se, quando a pandemia for ultrapassada, o tecido económico do Turismo terá resistido e estará pronto para assegurar o seu papel. Neste momento corre-se um sério risco de que os danos venham a ser irreparáveis.
No panorama nacional, a Região de Lisboa e, especial, a cidade têm sido os mais afetados dada a sua estrutura de produtos turísticos. Não beneficiámos da “época alta” como outras regiões e esta segunda vaga da pandemia tem levado a uma deteoração da situação
TecnoHotel Portugal — Quais as suas previsões para o futuro do setor? Vitor Costa — Ninguém pode fazer previsões sérias neste momento porque a incerteza é muito grande e ainda não sabemos qual a profundidade das feridas, isto é, como vamos ficar em relação à oferta do transporte aéreo, alojamento, restauração, animação, etc. Há dois fatores que nos devem dar alguma confiança relativamente ao futuro. Um, é o posicionamento de prestígio que Lisboa conquistou nos mercados e que não está minimamente afetado. O outro é o desejo de viajar que as pessoas não perderam, antes pelo contrário.