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O burnout é uma preocupação fundamental, mas metade dos líderes luta para ver os sinais. 67% dos não-gestores dizem que os líderes não correspondem às suas expetativas no que toca a estarem alertos e a verificar o seu bem-estar mental
15-10-2021
Os dados recolhidos pelo Grupo Adecco junto de 15 mil profissionais, em 25 países de todo o mundo, – ‘Reseting Normal: Defining the new era of work/2021’ – não deixam margem para dúvidas: o burnout pode ser a próxima pandemia entre os profissionais.
O burnout tem sido um importante motivo de preocupação para quase 40% da população ativa, de acordo com a pesquisa ‘Resetting Normal’. Trinta e quatro por cento das mulheres e 29% dos homens dizem que o seu bem-estar mental piorou ao longo do último ano. E este número agrava-se para os líderes mais jovens: 54% dos jovens líderes afirmam ter sofrido um esgotamento, o mesmo grupo que assume uma responsabilidade significativa pelo progresso futuro.
A maioria dos gestores ainda está muito aquém quando se trata de identificar sinais de esgotamento nos seus funcionários: mais de metade de todos os gestores têm dificuldade em identificar quando o pessoal pode estar a lutar com problemas de saúde mental (53%) ou com excesso de trabalho e esgotamento (51%).
Os funcionários concordam. Quase quatro em cada 10 trabalhadores sofrem de excesso de trabalho ou de esgotamento – e os seus gestores diretos nem sempre reparam. Sessenta e sete por cento dos não-gestores afirmam que os seus líderes não correspondem às suas expetativas de verificar o seu bem-estar mental.
Um futuro modelo de trabalho híbrido pode abrir mais oportunidades para promover a diversidade e a inclusão na força de trabalho, mas as empresas não podem alcançar estes objetivos sem construírem ambientes de trabalho melhores e mais flexíveis e sem pensarem mais no bem-estar das suas pessoas. É uma tendência reforçada pelo ‘Reseting Normal: Defining the new era of work/2021’.
Os líderes precisam de ser capacitados, treinados e apoiados para identificar e lidar com situações em que o coração das empresas – as pessoas – estejam a lutar com questões de saúde mental. Ou seja, resume Carla Rebelo, CEO da Adecco Portugal, “os líderes precisam de ter competências transversais fortes, como a empatia e inteligência emocional, o autoconhecimento, capacidade de escuta ativa, que são essencialmente traços de um perfil de liderança inclusivo, essenciais para detectar mais facilmente os sinais de stresse e poder ajudar um profissional antes de uma escalada maior na doença mental”. Mas Carla Rebelo ressalva: “Há ainda uma luta muito grande para discutir esta matéria de forma aberta e honesta, pelo tabu que existe em torno de temas como ansiedade, depressão, e outras questões congéneres. É urgente que caiam as barreiras e o preconceito face à saúde mental que, em última análise, têm custos elevados na vida das pessoas e, consequentemente, na vida das empresas.” Saúde mental deve ter uma abordagem holística
A saúde mental não é um tópico fechado em si mesmo: está interligada com outros aspetos do bem-estar, tais como a saúde física e o bem-estar social. De facto, estudos demonstram que o exercício pode ajudar a aliviar a depressão e a ansiedade. De acordo com um estudo realizado nos EUA, que envolveu 1,2 milhões de pessoas, conclui-se que os indivíduos que praticam regularmente exercício físico declaram menos 1,5 dias de saúde mental comprometida/ por mês, comparativamente às que não fazem qualquer prática física. É apenas um exemplo.
É muito importante que as empresas adotem uma abordagem holística do bem-estar das suas pessoas e considerem todos os aspetos da equação. As empresas precisam compreender primeiro o que a sua força de trabalho precisa para o seu bem-estar porque, no que toca à saúde mental, “não há uma panaceia que sirva para todos os casos. Cada empresa é diferente, o que exigirá uma abordagem diferenciada ao bem-estar. Descobrir o que as pessoas precisam pode ser feito através de uma combinação de inquéritos aos funcionários, reuniões, e workshops. Quando a empresa tiver uma noção clara das necessidades das suas pessoas, pode desenvolver melhor um plano que pode incluir recursos, processos e formação para os seus funcionários e líderes”, afirma Carla Rebelo.
Mas a CEO da Adecco Portugal deixa um alerta: “Ao nível da saúde mental há um trabalho individual a fazer que não pode ser só exigível às empresas, simplesmente porque nunca será suficiente nem eficaz. As empresas podem funcionar lindamente e proporcionar excelentes condições aos seus funcionários, com lideranças inclusivas e empáticas, fazerem a sua parte e, ainda assim, haver profissionais que não estão felizes. Ultrapassar o tabu, aprofundar o autoconhecimento e estar consciente de sinais de stresse é também uma prerrogativa de cada indivíduo”.No Grupo Adecco, as directrizes internacionais, a ajustar localmente em cada país, consideram elementos como o trabalho híbrido e o estabelecimento de um melhor equilíbrio entre o regime de trabalho presencial e remoto, dando prioridade a uma cultura baseada em resultados e tomando ações deliberadas em prol do bem-estar.
Embora a pandemia ainda não tenha terminado, e a crise continue em muitos países em todo o mundo, quer as empresas estejam ainda a gerir a crise, ou a iniciar a transição para uma nova normalidade, é absolutamente claro que o foco no bem-estar – incluindo a saúde mental – será fundamental para assegurar que os profissionais e empresas prosperem no futuro do trabalho.