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A TecnoHotel entrevista João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve

"A pandemia está a marcar profundamente o mercado de trabalho em Portugal. A taxa de desemprego disparou em julho para 8,1% e só no período de março a julho 140 mil portugueses perderam o emprego".

06-10-2020

A TecnoHotel entrevista  João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve

A TecnoHotel entrevistou o presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes sobre a situação presente e o futuro da região.

— Dado o contexto pandémico atual, como caracteriza o estado do turismo na sua região? (JF)— Temos assistido a um novo ânimo no setor turístico regional, embora ainda longe dos níveis dos anos anteriores, mas o certo é que qualquer restrição por parte do Reino Unido, mesmo que temporária, será sempre bastante negativa para o Algarve, sobretudo num momento em que as empresas estão a tentar evitar a falência e se procura minimizar o impacto no desemprego.              De acordo com os últimos dados da AHETA, a taxa média de ocupação/quarto em agosto, foi de 60,5%, o que traduz um crescimento da atividade em cadeia desde o final do período de confinamento. Para tal, muito tem contribuído a expressão da procura do mercado nacional, bem como a capacidade em retomar as ligações aéreas a partir do Aeroporto de Faro para os nossos principais mercados emissores europeus.  Recordo que temos verificado uma presença expressiva de turistas nos últimos meses, o Algarve apenas registou 1,9% dos casos de COVID-19 e os surtos ocorridos não foram resultantes de atividades turísticas, tendo sido debelados de forma exemplar. O Algarve é um destino seguro..  Vai continuar a existir um grande esforço por parte do Turismo do Algarve, das diferentes entidades e dos empresários da região em adotar as melhores práticas e em desenvolver campanhas de promoção em canais online, no sentido de motivar os portugueses e os estrangeiros a nos escolherem como destino de férias. Este mantém-se o nos- so foco.  — A pandemia do Coronavírus obrigou ao fecho de muitas fronteiras. Posto isto, quais são as nacionalidades que têm visitado mais a região? (JF)— Desde que em finais de maio reiniciaram as ligações aéreas para Faro que assistimos a uma procura crescente de diferentes mercados, nomeadamente de turistas oriundos da Holanda, Alemanha, França, Bélgica, Suíça e Luxemburgo, mas também do Reino Unido. Deste mercado emissor o número de turistas acentuou-se, como referi, com a integração de Portugal nos corredores aéreos turísticos. Também a reabertura das fronteiras terrestres com Espanha trouxe um aumento significativo na procura da região pelos turistas espanhóis. Ainda assim, mantêm-se os turistas portugueses como presença mais expressiva na região, sobretudo no verão. É assim desde sempre e este ano não foi exceção.  — A quebra do turismo provocou um crescimento do desemprego. Já existe uma noção clara de números e do impacto sentido? (JF)— A pandemia está a marcar profundamente o mercado de trabalho em Portugal. A taxa de desemprego disparou em julho para 8,1% e só no período de março a julho 140 mil portugueses perderam o emprego. No contexto nacional, o Algarve é uma das regiões mais afetadas pelo desem- prego. Com o turismo severamente penalizado, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego da região atingia quase 23 mil pessoas em julho... Esta situação preocupa-nos, naturalmente, e é também por isso que estamos a arrancar com mais uma campanha online com o apoio do Turismo de Portugal para impulsionar as reservas de estadas na região até ao final do ano e pôr a mexer a economia regional. A expectativa é a de que os próximos quatro meses contribuam para gerar impactos positivos significativos no turismo da região, face ao investimento que o Turismo do Algarve tem feito em vários mercados, através de várias ações que traduzem o nosso esforço adicional na promoção do destino nesta fase.  A título de exemplo, campanhas de “flash sale” que organizámos em conjunto com as companhias aéreas Eurowings, Ryanair e EasyJet, e o apoio que temos dado a press e blog trips na região de influenciadores portugueses e estrangeiros.  Também durante o período de confinamento preparámos a realização de visitas virtuais com conteúdos digitais destinados aos turistas e aos operadores; a organização de cursos de e-learning com agentes de viagens de vários mercados externos para o reforço do seu conhecimento do des- tino; e a realização de campanhas de marketing conjuntas com operadores e companhias aéreas. Recordo que fomos das primeiras regiões a retomar ligações aéreas com os primeiros voos ainda no final de maio. 

Estas iniciativas foram transversais a vários mercados emissores de turistas para a região,

mas pelo interesse crescente da Alemanha no destino, o Turismo do Algarve desenvolveu outras iniciativas específicas para este país. A este propósito, é de destacar que a região registou a visita de cerca de 360 mil hóspedes provenientes da Alemanha, apenas em 2019. Assim, dirigimos ao merca- do alemão uma campanha de comunicação digital com o mote “Die Algarve tut dir gut” (“O Algarve fica-te bem”), em que o vídeo promocional mostra o Algarve como um destino onde é possível viver experiências únicas e desfrutar de paisagens serenas e de um grande contacto com a natureza. Pelos resultados obtidos registamos mais de 120 mil visualizações e temos previsto um reforço desta campanha online, até ao final do ano, com conteúdos relacionados com produtos como o golfe, turismo de natureza, cycling e walking, cultura e gastronomia. Mas ainda durante o mês de setem- bro, o Turismo do Algarve vai receber, numa fam trip, a visita de um grupo convidado composto por 16 agentes de viagens e dois representantes da editora líder de publicações na área das viagens na Alemanha (FVW Medien) e realizar um workshop para profissionais do setor que contará com a pre- sença do embaixador alemão em Portugal e representantes da Câmara de Comércio e Industria Luso-Alemã.  Adicionalmente, está prevista a realização de um programa de qualificação dos recursos humanos e de manutenção do emprego. O objetivo é dar formação aos funcionários das empresas e assegurar uma comparticipação dos salários, como complemento ao lay-off, reduzindo assim custos fixos às empresas e compensando eventuais perdas remuneratórias aos trabalhadores. Será um programa para vigorar em época baixa, aproveitando a menor procura para reforçar as competências profissionais e promover a competitividade futura pela melhoria da qualidade do serviço oferecido no setor.  — Quais foram as medidas de apoio a que tiveram direito? (JF)— Houve um forte empenho por parte do Turismo do Algarve em apoiar os empresários e os trabalhadores do setor desde o início da pandemia. Ativámos em março uma campanha de informação e de esclarecimento junto dos empresários sobre o pacote de medidas anunciadas pelo Governo e pelo Turismo de Portugal para mitigar as consequências económicas do novo coronavírus. Criámos igualmente, um Gabinete de Apoio ao Empresário com o propósito de divulgar às pequenas e médias empresas as medidas de apoio disponíveis, nomeadamente no que diz respeito às linhas de crédito, manutenção do emprego ou flexibilização dos compromissos contributivos e fiscais.  Pela nossa parte, estamos a articular com o Turismo de Portugal uma nova campanha, como já referi, totalmente digital para reforçar a marcação de férias na região. Este é um apoio direto do Turismo de Portugal ao Algarve, que continua a ser o principal destino turístico do país. O Governo preparou também um plano de emergência social e económico e anunciou um plano específico para o Algarve, para este ano e para 2021, precisamente para ajudar a reduzir os efeitos da pandemia na região..  — Que impacto terá esta nova realidade no setor do turismo, bem como na região? (JF)— Esta crise de saúde pública está a abalar o mundo. E está já a alterar paradigmas no turismo, com algumas disrupções ao nível do comportamento do turista, com alterações nos padrões de viagem e uma preocupação acrescida com a segurança. Ao mesmo tempo, também se deve esperar uma aceleração das tendências de que se tem vindo a falar nos últimos anos. Não há hoje dúvida de que para continuarmos a ser competitivos a aposta terá de residir no desenvolvimento sustentável dos destinos, no potencial das tecnologias de informação, na transformação digital, na autenticidade das experiências e na qualidade em vez do volume.  É nesta perspetiva que o Turismo do Algarve tem vindo a trabalhar. A nossa estratégia assenta na diversificação dos mercados emissores e dos produtos turísticos, de forma a esbater a sazonalidade, a potenciar o crescimento do turismo nos territórios de baixa densidade e a promover a segmentação dos turistas face à oferta que existe na região. De facto, é essencial que se consigam gerar impactos cada vez mais eficazes para benefício dos diferentes setores de atividade e, por consequência, das comunidades locais. De todo se deve descurar o impacto futuro da situação atual e, como tal, estamos a rever o Plano de Marketing Estratégico para o Turismo do Algarve, pela necessidade de redefinir uma visão estratégica global com atuações concertadas e cooperantes entre os diferentes agentes económicos e turísticos. Só assim é possível pensar o desenvolvimento sus- tentável da região. Devemos ter capacidade de continuar a apostar na economia circular, na digitalização, na mobilidade elétrica e suave e na eficiência hídrica, energética e dos resíduos, mitigando as alterações climáticas e os custos. Integrada na prioridade de conseguirmos ser um destino mais inteligente e sustentável, está também a qualificação dos profissionais, essenciais para a capacidade produtiva das empresas e para uma prestação de serviços de qualidade.  Este é um cenário desafiante, sem dúvida. Mas é também uma oportunidade para sairmos deste período mais fortes e competitivos!  — Quais as suas previsões para o futuro do setor? (JF)— Tudo dependerá da evolução da pandemia e da criação de instrumentos eficazes de terapêutica ou vacinação. Não obstante, penso que até lá evoluiremos também na forma de convivermos com o vírus, nomeadamente no setor das viagens, com o surgimento de testes cada vez mais rápidos, eficazes e económicos para a adoção de passaportes sanitários no espaço europeu, com um siste- ma de duplo teste (partida e regresso). 

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